Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens

domingo, 9 de novembro de 2014

Cyberpunk X Shadowpunk

Ok, o título foi uma provocação (fiuuu, as pessoas fazem qualquer coisa para chamar a atenção nos dias de hoje!).

Quando diferencio cyberpunk de outros tipos de narrativas (incluindo, isso deve ser meio óbvio, Shadowrun) não faço isso no sentido de oposição.


Na verdade, acho que tudo deva ser jogado e não promovo (juro) nenhuma cruzada pessoal contra este ou aquele jogo. Ok, exceto D&D 4th edição, mas isso não vem ao caso.

O texto a seguir é uma contribuição, uma sugestão, sobre outra forma de se encarar este tipo de ambientação e diferencia-la do cyberpunk clássico. Sejam camaradas e continuem lendo, que , espero, podem até gostar de mim e não me xingar quando pensarem em minha humilde pessoa.

Então vamos lá:


a) PRIMEIRO o porque do termo e o que ele engloba:

O termo tem o objetivo de classificar o tipo de narrativa proposta em jogos de inspiração cyberpunk como um subgênero (sub de derivado, não de inferior ao CB).

Cito os três principais jogos que conheço a respeito:
- Shadowrun (que creio, dispensa comentários)
- Dark Conspirancy (jogo oldschool envolvendo invasões de hordas demoníacas, alienígenas e alta conspirações de corporações altamente corruptas em um mundo com a natureza enlouquecendo)
- Kuro (Rpg francês que tenho curtido pacas e que está sendo traduzido pela editora New Order).

Sombras, Escuro e Negro (Kuro, em japonês).

Todos os três jogos, que usam de uma ambientação de alta tecnologia e o retorno da magia ao mundo, tem a ausência de luz como parte de seu nome. Dos três, Shadowrun é o mais clássico e de maior referência, então o "Shadow" aplicado ao "Punk" (como Vaporpunk, dieselpunk, etc) cabe bem aqui, na minha opinião.

Conforme pretendo explicar, isso é uma diferenciação necessária - e útil!

b) O problema "Cyberpunk" e o que ele engloba - e o que não engloba:

Ok, essa parte será mais extensa, então peço paciência. Basicamente, em sua origem, "Cyberpunk" nem mesmo era o termo adotado pelos escritores que criaram o movimento no início dos anos 1980.

Entre os vários termos utilizados estavam "O Movimento" e 'Neuromancers". Cyberpunk foi, tal qual "Ficção Científica", um termo editorial mais bem-definido para se definir o tipo de literatura que surgia então.

No Brasil, o primeiro romance "cyberpunk" foi "Silicone XXI" que Alfredo Sirkis sempre preferiu chamar de "Noir Futurista. - na outra ponta e de mesmo modo, "Noir Futurista é um termo que se aplica muito bem ao estilo "Cyberpunk" de Rio: Zona de Guerra (Leo Lopes, editora Vecchi).

Isso porque o termo "cyber" não é imprescindível à ambientação, mas o punk, a "vida em baixa" é.

O mote principal de cyberpunk, aliás, é "High Tecnology, Lor Life", algo como "Tecnologia de ponta e Vida de Merda" em uma livre-interpretação minha.

ATENÇÃO, ênfase no "High Tecnology" que isso será necessário para entender meu ponto de vista já já.

De fato, a principal matéria-prima de cyberpunk é a relação do homem e da sociedade com a tecnologia, sendo ela mais do que um mero pano de fundo de ambientação, mas quase um personagem extra nos livros.

Vamos a três exemplos clássicos literários e dois cinematográficos::

-Neuromancer (Willian Gibons): a Matriz é um mundo à parte, trazendo novas perspectivas de relações sociais e profissionais, bem como de possibilidades de auto-descoberta ao personagem principal (Case). Mesmo a forte personagem, Molly Millions, e seus "olhos espelhados" não tem um envolvimento com os implantes à toa. Suas janelas para a alma reflexivas são um componente fundamental para se compreender o livro.

-Piratas de Dados (Bruce Sterling) - O livro começa com a personagem principal tropeçando em um antigo computador na areia da praia. As relações com o meio-ambiente, a visão corporativista-cotidiana, as produções de comida a lá lactobacilos em tanques em uma certa ilha e por aí vai, permeiam e enriquecem a narrativa, dialogam com o personagem. A tecnologia, a "Techneé" faz parte viceraldos personagens, ainda que metaforicamente.

-Rio: Zona de Guerra (Leo Lopes): O Muro do Condomínio criado por Leo Lopes é um marco da tecnologia. ele define a vida e a sociedade de forta bastante expressiva (e opressiva). A arma hightech do detetive noir e romantico, Freitas, é uma parte fundamental dele, como o sabre de luz de Luke Skywalker ou o disco de dados de Tron.

Bladerunner: Certamente o filme mais marcante no gênero: A cidade é a paisagem natural do homem. Fruto não da natureza dos românticos alemães, mas romantica em vários aspectos, também. Nublada, chuvosa, hiper-congestionada (a ponto da polícia precisar sobrevoar as ruas), Ela é fruto da capacidade humana e seu próprio labirinto. Fora isso o filme tem uma série de discussões profundas sobre definições de seres-humanos, humanidade e direito, sobre injustiças diversas e grandes corporações em uma espiral de violência e uma desesperança traduzida em consumo até de animais sintéticos, na esperança de alguma coisa fazer sentido e trazer alento. A tecnologia é a caixa de Pandora em torno da qual dançam os personagens.

Robocop: O policial-máquina é pouco adepto de grandes reflexões sobre si mesmo - ainda que existam momentos de questionamentos - explorado de formas diferentes no original e no reboot do ano passado, a tecnologia modifica corpos e as relações sociais. Ela é a mensageira entre o passado e  opresente, os códigos morais, e, quando falha, potencial ameaça ao Deus do Capital.

Tecnologia.
Tecnologia.
Tecnologia.
E uma vida de merda, em qualquer um dos casos.

Essa distopia hightech é a essênciacyperpunk/ Neuromancista / Noir Futurista .

Cyberpunk é um gênero tão poderoso que virou uma escola de filosofia (antropologia Cyborg) e influenciou e influencia até hoje moda e comportamento, como no caso do Snowcrash e o jogo "Second Life", na música, ns quadrinhos, nas idéias de Cory Doctorow, e nas falas de Elias Herlander sobre termos nos tornado cyberpunk.

No plano espiritual as religiões existem, sim. Neo-paganismos, antigas crenças, maçonarias (como no caso do Game "Deus Ex"), mas sempre (com exceção de um grey pulando de uma sala em D.E., ok) como forma metafórica e de um ponto de vista pragmático.

Não existem, nas concepções ocidentais, um refresco místico-religioso. Tudo é analisado do ponto de vista de um fenômeno social. Em Snowcrash (Nevasca) de Neal Stephenson) uma certa igreja é usada como forma de propagar um novo tipo de vírus linguístico, mas sem um Deus Ex Machina vindo trazer alento aos homens de boa vontade. Em Neuromancer há rastafaris em uma estação espacial, com a religião deles servindo como parte da descrição de uma nova cultura, em "Fuga de Los Angeles (péssimo filme que eu adoro) há uma seita ... de adoradores de cirurgia plástica.

Ou seja, a magia não é real.
No máximo, em filmes como Akira, a natureza de experimentos fogem do controle, e com exceção de um final um pouco ruim (no filme, que o mangá vai mais além e traz soluções das quais gosto mais), nada além disso. E, ainda assim, é uma outra caixa de Pandora aberta por uma produção de tecnologias novas sem preocupações com as consequências.

Cyberpunk dialoga, todo o tempo, com a tecnologia, plausível ao extremo, e em um futuro próximo, e a sociedade, consumismo e exploração.

Daí que vem o Seguinte:

C) Shadowpunk: "High Magic, High Tecnology, Low Life" 


- O Problema "Gibbons":
Disse um dos fundadores do movimento cyberpunk o seguinte:

William Gibson:
To the extent that there was a Cyberpunk movement-and there wasn't, really, but to the extent that there was, the five or six people who I knew in 1981 who were doing this stuff and had a radical aesthetic agenda, at least in terms of that pop-art form of science fiction, [and] one of the things that we were really conscious of was appropriation. Appropriation as a post-modern aesthetic and entrepreneurial strategy. So we were doing it too. We were happily and gloriously lifting all sorts of flavours and colours from all over popular culture and putting it together to our own ends. So when I see things like ShadowRun, the only negative thing 

I feel about it is that initial extreme revulsion at seeing my literary DNA mixed with elves. Somewhere somebody's sitting and saying 'I've got it! We're gonna do William Gibson and Tolkien!' Over my dead body! But I don't have to bear any aesthetic responsibility for it. I've never earned a nickel, but I wouldn't sue them. It's a fair cop. I'm sure there are people who could sue me, if they were so inclined, for messing with their stuff. So it's just kind of amusing.


Não vou traduzir (sem paciência, mal aí), mas se tem alguém que sabe do que fala, é ele.

Que em resumo odeia a mistura de suas idéias com as de Tolkien, o DNA de sua literatura permeado por elfos, e a agenda estética do Cyberpunk enrolada com Shadowrun.


Entre outras coisas, porque magia nesses casos (Shadowrun, Dark Compirancy e Kuro) é REAL.
Ela não é uma metáfora para divergências ideológicas. E aí reside um problema. Me desculpem o purismo, mas cyberpunk já é, por si só, uma ambientação complexa. E fica muito dificil você falar sobre corpos e tecnologia, sobre tecnée e a psiquée, sobre a tecnica como essência do homem (como chamaria o pensador Umberto Galimberti) se o corpo não é humano, mas um troll, um elfo ou um dragão.

Veja, isso não significa que não possa ser tentado. Pode. Mas perdem-se em parte as discussões quando mais uma metáfora é somada sem necessidade. em vez de falar de humanos falamos de Orcs, que já são corpos não-humanos em essência, para se discutir as relações de humanidade e tecnologia. Pera, mas humanidade aonde, ali? Ok, o personagem é uma antropomorfização, mas perde-se um tempo a mais , uma ou várias voltas a mais para se chegar à uma discussão mais essencial.

Em Dark Connspirancy há toda uma construção de uma natureza enlouquecida, o que, por si, dá uma boa ambientação (como em "Tempo Fechado"), mas que perde relevância perto de uma invasão de alienigenas de uma dimensão demoníaca.

Explicando de outo modo:Se for tentar captar os principais elementos da ambientação e aplicá-los a uma temática cyberpunk, a coisa fica meio over, perde parte de seus detalhamentos característicos e bacanas.

BANG BANG x VAPORPUNK: Vou usar um exemplo para explicar essa parte aqui: Deadlands é uma história de Vaporpunk com pitadas de terror que se passa no velho oeste. Mas não é Bang Bang. É Vaporpunk. Saber disso não transforma o jogo em algo ruim. Ao contrário, há excelentes aventuras a serem contadas ali. Mas usar todo esse arsenal de possibilidades para contar a história de Butchcassidy, por exemplo, é quase um anti-clímax. Afinal, Sundance poderia ter uma habilidade de fazer sairem ventos que apagassem suas pegadas, ou terem um gadjet de vapor que pulverizasse uma montanha, ou encontrarem, no meio de sua fuga um vilão com uma aranha gigantesca e a aventura receber outro sabor.

Mas se for para contar a história do filme em uma mesa, um RPG de Velho Oeste, como Dust Devils, pode ser mais apropriado.

O MESMO se passa em Shadowrun e afins. Para que um sujeito que pode quebrar as regras da física vai investir em uma arma de raios? Seres humanos 9ou elfos, ou sei lá) sairiam mais barato. Contratar uma duzia de lançadores de encantamentos passando fome deveria ser um enredo mais forte do que um equivalente "cospe-fogo = dano de bazuca".

Shadowrun pode ter se inspirado em cyberpunk, e usar muitos de seus elementos, mas não é cyberpunk e, de novo, isso não é ruim). Do mesmo modo que cyberpunk usa elementos de noir e não é noir, ou vaporpunk pode usar elementos de velho-oeste sem ser bang-bang.

Percebem? Shadowrun é sub-aproveitado quando tenta ser mero cyberpunk (e isso é um tremendo elogio, se entenderam o que eu disse). Quando se prende, com esses recursos, a uma história cyberpunk o cenário está sendo subaproveitado para o tipo de coisa que ele pode permitir.

Dark Conspirancy ainda se segura, desde que você consiga fazer aventuras mais de conspiração e intriga e menos de combate a opressão de corporações em si.

E kuro merece um capítulo a parte, mas em essência p jogo é planejado para dois tipoos diferentes de campanha (ainda que a ênnfase em tecnologia seja menor do que eu gostaria),  é em essência, cyberpunk japonês (que assim como o bang-bang à italiana faz, tem sua propria lógica em relação ao original americano).

O que fazer, portanto?
Minha sugestão é: Pare de chamar Shadowrun (e afins) de Cyberpunk e use "Shadowpunk" (ou um termo que prefiram). Assuma a personalidade própria do jogo. Invista, por exemplo, mais em mitos indigenas americanos, faça a magia ganhar corpo frente a tecnologia e, com isso, tornar a relações sociais, baseadas em produção de tecnologia, um caos. Você não precisa de insetos multi-dimensionais para aproveitar os recursos, precisa se ater ao "Punk" e dar a eles mais sombras - misticas no caso, assustadoras histórias do mundo saindo do controle.

Há variáveis bastante bacanas, como Vaporpunk e Clockpunk, que fornecem ambientações e desafios próprios. Por mais similaridades que a Era Vitoriana tenha com alguns elementos cyberpunk, a sexualidade, por exemplo, tem características próprias. A loucura, as concepções de guerra, democracia e relações de empregados x patrões são diferentes. Para funcionar em casos assim, entender as diferenças e sair delas, e não do modelo inicial, é fundamentl para histórias com muito mais personalidade.

Enfim, espero que os jogadores de Shadowrun entendam a proposta do texto.
Não odeio SR, acho um RPG divertido e bacana. Assim como não odeio Kuro (basta ver outras postagens no blog) e assim como amo Dark Conspiracy, que é uma das minhas ambientações preferidas.

Mas é diferente o suficiente de cyberpunk para merecer outro tipo de definição. E acho, sinceramente, que isso é positivo.

Abraços, não me xinguem muito e, se fiorem fazê-lo, façam só depois de ler o texto (com calma e sem sangue nos olhos, se der).

Tio Brega.

Bibliografia sugerida:

-http://forums.dumpshock.com/index.php?showtopic=4088 (fala do Gibbons)

- Donna Haraway : Simians Cyborgs And Women

- Herlander Elias Cyberpunk 2.0, Fiction and Contemporary

- Technée e Psiquée (Umberto Galimberti)

- Dani Cavallaro: Cyberpunk & Cyberculture (esse ainda estou lendo)

domingo, 4 de agosto de 2013

Cyberpunk e Neo-Lamarckistas, e Porque não Podemos Abrir Mão da Tecnologia


Vira e mexe vejo alguém metendo o malho na "dependencia extrema" de seres-humanos da tecnologia.

É uma das maiores besteiras alegadamente profundas que alguém pode dizer.

Evidentemente que não precisamos ser "dominados" pela tecnologia, a ponto de parearmos nosso ego com o tamanho da definição de nossos celulares, mas há de se convir que a tecnologia, em si, é fundamental em nosso cotidiano.

Não somos a espécie mais rápida, mais forte ou mais organizada socialmente. Grandes felinos, gorilas e abelhas ganham facilmente do Homo Sapiens Sapiens nestes quisitos, por exemplo.

Nossas unicas vantagens de sobrevivência são nossa boa capacidade cognitiva, nossas habilidades de comunicação e destreza manual. Ironicamente, nada disso realmente serve individualmente para sobrevivermos na selva.

A não ser, é claro que apontar uma pegada e dizer "Cuidado com o Tigre!" conte.

Mas em cnjunto estas capacidades nos permitem uma adaptação tremenda ao meio ambiente. Mais do que isso, nos permite adaptar O MEIO AMBIENTE às nossas necessidades.

Se uma região não tem cavernas, juntar um monte de pedras é extremamente útil para se construir uma. Se nosso couro não aguenta mais uma era glacial, nos metermos debaixo das grossas peles de um urso é um quentinho e tanto.

E se não temos dentes muito afiados, usar aquela madeira pontiaguda para ferir uma zebra não é uma idéia tão ruim.

Sejamos francos, é por criarmos tecnologia que estamos aqui hoje em dia usando um computador, ainda que  o caminho tenha sido longo.

É aí que entra um problema:
Adeptos da neo-genética desembestada enxergam tudo como estratégias de sobrevivência, nas quais os GENES usam a nós como "veiculos" para se multiplicarem, resultando no que Donna Haraway chama de "fetichismo do gene".

Essa inversão é tão tola quanto dizer (a sério) que "a galinha foi a melhor forma que o ovo encontrou de se reproduzir".

Dados os devidos descontos, mesmo o conceito de "Meme", também presente no interessante "Gene Egoísta" de Dawkins pode ser um pouco exagerado se levado ao pé da letra.

E por mais que por vezes me irrite com algumas falas mais exageradas de grupos ambientalistas (só algumas, mas acontece), é preciso um certo cuidado no uso desenfreado e irrestrito de toda e qualquer tecnologia, já que o esforço para tornar  o inóspito em hóspito em geral tem um custo a médio e longo prazo bem mais caro.

Mas voltemos a Darwin e Lamarck.

Jean-Baptiste de Lamarck foi o criador de uma idéia original e bem-pensada, ainda que muito
errada, sobre a forma como as espécies sofreriam mudanças ao longo dos tempos.
O lamarckismo pregava  o seguinte: que as necessidades e esforços dos animais em vida eram transmitidas às futuras gerações ainda em vida no ato da reprodução. Ou seja, que uma girafa que tentasse esticar  o pescoço em demasia, alongando-o, teria um filho com um pescoço um pouco mais cumprido, e assim por diante.

O genial Charles Darwin percebeu que  a explicação era um pouco mais complexa, e criou a teoria da Seleção Natural (teoria essa aceita e comprovada, por mais que criacionistas esperneiem).

A seleção natural diz o seguinte: Que uma característica, nova ou pré-existente em uma espécie pode aumentar ou diminuir as chances reprodutivas da mesma. Por exemplo, um passaro de bico torto pode não conseguir comer as mesmas frutas que seus irmãos e primos, mas pode consgeguir comer um inseto qualquer, e no final, explorar uma fonte de alimento sem competidores, tendo mais energia para correr atrás de fêmeas e assim ter uma geração seguinte com mais passaros de bicos tortos. e assim por diante.

O problema é tentar usar a teoria darwinista, pura, em cima da cultura humana.

Primeiro, tivemos a podridão vitoriana do "Darwinismo social" que tentava justificar atrocidades socias usando conceitos de "seleção natural". Além de Darwin falar sobre biologia, e não sobre sociologia, era uma desculpa esfarrapada de uma releitura para se substituir  o "direito divino" de ser um nobre babaca no "direito evolutivo" de ser um burguês babaca.

Além disso, tivemos algumas aberrações, como o nazismo, que roubava idéias do darwinismo para justificar atrocidades sem fim - atrocidades estas que seriam cometidas de qualquer maneira, mas que se faziam de "racionais" deturpando conceitos de biologia.

Mais adiante no seculo XX tivemos o uso da grandessíssima canalha Tatcher estuprando conceitos como "Gene Egoista" para justificar suas políticas desumanas, e uma série de pesquisadores do sexo masculino batendo seus grossos curriculos na mesa e defendendo posições machistas, como o de que a mulher deva ser biologicamente programada para ser fiel e busca poucos parceiros, (assim como um óvulo),  enquanto que, mal aí, nós vamos sair por aí espalhando nossos girininhos safados, conhecidos como espermatozóides.
Cartaz criticando a multinacional Monsanto
Vulgo: Darwin e sua seleção natural estavam corretos, mas como qualquer ferramenta precisa  ser bem aplicada, ou dá nhaca.

É ai que entra um outro conceito: Nossa espécie não "responde" somente a seleção natural, mas é complexa  o suficiente para se enquadrar no, diguemos assim "neo-lamarckimo"

Explico: Não transmitimos "genes" de braços cumpridos para mudar o canal da TV, mas criamos controle remoto. Não alongamos nossos braços para pegar uma fruta, mas aprendemos (e ensinamos) os rudimentos de uma escada para isso.

O que nos diferencia de outras espécies é nossa capacidade de adaptação ao meio-ambiente, de adaptação do meio-ambiente às nossas necessidades (por exemplo, plantaçoes de alimentos), e, sobretudo, de transposição destas adaptações para novos ambientes.

Um castor pode saber construir uma represa. Ok, felicidades. Mas ele não sabe aplicar este conhecimento na construção de um muro que  o isole de um predador, por exemplo. Um bonobo pode saber usar uma vareta para cutucar um galho, mas não consegue visualisar uma série de galhos sobrepostos para fazer uma ponte e ultrapassar um rio (bonobos, assim como chimpanzés, são nadadores muito ruins).

Somos neo-lamarckistas. E isso diz muito sobre a importância da tecnologia em nossas vidas.

Quando penso em cyberpunk, penso sempre nisso: A tecnologia pode moldar nosso ambiente, mas também pode moldar nossos corpos para além dos sonhos mais malucos de Darwin ou de Mendel e suas ervilhas.

Sob vários aspectos, já somos todos cyberpunk.

Já usamos próteses dentarias, já fazemos cirurgias de reconstrução ocular, permitindo uma melhor visão, já temos atletas olimpicos usando proteses em membros, cardiacos com marca-passos e orgãos sintéticos.

Já vivemos em um ambiente natural que nos rodeia, mas antes, expandimos nossos territórios a ponto de nós rodearmos os territórios naturais, com reservas e parques.

Já vivemos em uma era de informação estonteante, de mudanças sociais tão rápidas que revoluções de comportamento ocorridas há 15 anos, com a popularização da internet, são hoje em grande parte desconhecidas ou esquecidas (vide disquetes, por exemplo, ou salas de chat).

E também já obervamos uma época de grandes corporações querendo privatizar sementes nativas ou o brócolis.

Culpar a tecnologia em si por tudo isso não adianta, porque a tecnologia é o nosso meio-ambiente. O que se pode fazer é aprendermos a usar cada vez melhor esta tecnologia e utilizá-la em prol de nossos interesses, individuais e sociais, como redes sociais no combate ao autoritarismo na mesma medida que o autoritarismo deseja brincar de Grande Irmão.

A Tecnologia é nossa essência.





Recomendo para leitura e reflexão:

-Psichée e Technée (Umberto Galimberti)

-Manifesto Cyborg (Donna Haraway)

Ps:  (Este texto é um esboço. Você pode melhorá-lo deixando sua opinião na folha de respostas, mas não sendo chato. Nenhuma das idéias do texto são minhas, mas algumas delas já nem lembro mais onde eu li. De qualquer forma, ele é uma reflexão sobre ser-humano e tecnologia, não um texto para  o nobel)

terça-feira, 18 de junho de 2013

"A Revolução Não Será Televisionada"

Achei que cabia neste humilde blog cyberpunk este video, dada a conjuntura atual:

Atual, sob vários aspectos.

(peço perdão por eventuais erros na tradução).

Você não será capaz de ficar em casa irmão
Você não será capaz de ligar, desligar e se rebelar
Você não será capaz de se perder na biqueira e sair,
Sair fora para uma cerveja durante os comerciais
  Porque a revolução não será televisionada.

A revolução não será televisionada.
A revolução não levada a você pela Xerox
Em 4 partes sem comerciais e interrupções.
A revolução não vai mostrar pra você fotos de Nixon
  soprando uma corneta e liderando uma carga por John
Mitchel, General Abrams e Spiro Agnew para comer
bucho de porcos confiscados no Santuário do Harlem
A revolução não será televisionada.

 A revolução não será levada a você pela
Premiação do Teatro Schaefer e não vai estrelar
Natalie[Woods e Steve MacQueen ou Bullwinkle e Julia.
A revolução não vai dar sex appeal a sua boca
A revolução não vai te livrar dos nódulos.

  A revolução não vai fazer você parecer dois quilos mais magro,
porque a revolução não será televisionada, irmão.
Não vai ter fotos de você com Willie May
correndo com um carrinho de compras no bairro em uma corrida de morte,
ou tentando deslizar aquela televisão colorida roubada dentro de uma ambulância
A rede NBC não vai poder prever o vencedor às 08:32
ou fazer relatos de 29 distritos.
  A revolução não será televisionada.

Não vai haver fotos de porcos (policiais) atirando
em irmãos em replay instantâneo
Não vai haver fotos de porcos atirando
em irmãos em replay instantâneo
Não vai haver fotos de Whitney Young correndo
 para fora do Harlem no trilho de um processo novo
Não vai haver câmera lenta ou pausa na vida
de RoyWilkens passeando pela Watts no Vermelho,
Preto de macacão da liberdade
que foi guardado para a ocasião certa

Green Acres, o Beverly Hillbillies, e Hooterville
não serão condenados tão relevantemente, e
as mulheres não ligarão se Dick finalmente chegar aos finalmente
com Jane no “Searching for Tomorrow”
porque os negro  vão estar na rua procurando por um dia mais brilhante.
A revolução não será televisionada.

 Não vai haver mais destaques as onze horas
no noticiário e nada de mulheres feministas peludas armadas
Nem Jackie Onassis quebrando o nariz
 A música tema não serà escrita por Jimm Webb,
 Francis Scott Key, e não vai ser cantada por Glen Cambell,
Tom Jones, Johnny Cash, Englebert Humperdink, ou Rare Earth.]
  A revolução não será televisionada.

 A revolução não vai voltar após um informe
 sobre um tornado branco, um raio branco, ou pessoas brancas.
Você não vai ter de se preocupar com um pomba em sua cama
 quarto, um tigre na sua banheira, ou um gigante em seu vaso sanitário.
 A revolução não vai melhor com Coca-cola
A revolução não vai lutar com germes que causam mal hálito.
 A revolução vai coloca-lo no assento do motorista.

 A revolução não vai ser televisionada,
A revolução não vai ser televisionada,
A revolução não vai ter retorno irmãos,
 A revolução será ao vivo.



sexta-feira, 14 de junho de 2013

Todo Poder ao Ácido Etanóico!


O QUÊ??? Uma das cenas mais cyberpunks dos últimos anos e vocês achavam que esse humilde blog ia deixar isso passar em branco?

Pois bem são inúmeras as cenas de abuso policial, repressão e dantescos policiais enfiando porrada em gente visivelmente inocente. A mais paradoxal é a paranóia pelo vinagre (acido etanóico), que parece saido de um inferno Orwelliano.

Aviso à PM paulistana que  o RPG aqui do blog é de "Role Playing Game" e não de "Rocket Propelled Laucher".

Nunca se sabe, melhor garantir.