sábado, 21 de junho de 2014

Rio: Zona de Guerra - Uma Resenha

Rio: Zona de Guerra é um livro de Leo Lopes, e que aborda, em um romance noir, a temática cyberpunk.

Em alguns aspectos o livro me lembra "Silicone XXI", a que Alfredo Sirkis insistia em chamar de "Noir Futurista".

Me parece que o livro de Lopes é algo entre o cyberpunk e o noir, então, o que me alegra, pois entendo que ambas as temáticas casam-se entre si de forma bastante interessante.

Quando "O Movimento" (isto é, o grupo de escritores que depois foram batizados poor um editor de "cyberpunkers")se iniciou, eles se davam vários nomes, o mais conhecido é o de "Neuromancistas".


A estética urbana, os conflitos sociais, a economia, a radicalização nas diferenças entre extremos da sociedade, uma discussão sobre o que era o corpo e a mente, a fragilização dos poderes e a alta tecnologia eram os enfoques principais desses primeiros livros e contos. O noir, desde muito cedo, com personagens detetivescos, como em Blade Runner, foram bastante utilizados e só gradualmente a cibern´etica dos "cybers" passou a ser mais envolvida nas narrativas.

Uma das coisas que apreciei no livro é que, apesar da discussão de corpo e mente, bem aparecerem durante a narrativa, com algumas idéias bem assustadoras, o autor conseguiu pegar essa veia urbana decadente (materialmente, na Zona de Guerra, e moralmente, no "lado seguro da fronteira") magistralmente.

O personagem principal é o detetive Freitas, um auto-exilado para a Zona de Guerra que cansou do modo de vida em um "condominio" gigantesco por toda a barra da tijuca, que, isolado das mazelas da população em geral, se transformou em uma espécie de cidade-estado de luxo.

Neste condomínio o Governo tem poucos poderes, e quem é o real braço forte do pedaço são as grandes corporações, fortemente armadas e se protegendo das gangues da Zona de Combate como podem.

O preconceito é uma arma das mais seguras contra o restante da população, já que justifica atos de assassinato e crimes em geral contra os bárbaros.

Na zona de guerra as pessoas sovbrevivem como podem. Em uma cidade parcialmente inundada pela subida das marés, gangues dominam e disputam bairros e regiões, e cada vizinhança se defende como pode.

O Rio, pelo que aponta o livro, não é a única cidade com "Zonas de Guerra", já que cidades como Recife (entre outras)enfrentam problemas similares.

No meio de tudo isso, o nosso detetive, acima citado, permeia entre os dois espaços, contornando as armadilhas corporativas que o tentam impedir de desvendar o assassinato/ suicídio de uma prostituta enquanto usa o suporte de amigos na Zona de Guerra, sempre ao Lado de Princesa, uma pistola capaz de fazer Dirty Harry chorar de inveja feito uma menininha.

Há algumas reviravoltas na trama, boas cenas de ação e perseguição e um bom número de personagens marcantes, como um pós-adoescente gênio e Vivian... (Ah, a Vivian...!)a "femme fatale" da aventura, e um dos interesses românticos de Freitas ao lado de Renata, uma advogada em eterno conflito entre seus ideais e a vida tranquila dentro do condomínio.

Nem preciso dizer que é um livrom que qualquer bom leitor de cyberpunk tenda a gostar.

Problemas com o livro:
Sim, eu sou um daqueles resenhistas chatos que encontram defeito em tudo, mas faz parte:

Só UM problema foi detectado, pelo entusiasta que vos fala: Tamanho do livro.

Primeiramente porque o autor tem excelentes idéias e soluções, e o livro acabou quando estava ficando mais empolgado. O fato de eu ter lido até as três da manha sem dúvida que "encurtaram" um pouco a leitura, mas, a sério, é uma boa obra e queria ter tido mais tempo de leitura em cima dela.

Isso não é uma falha grave. O livro na edição da Editora Avec ganhou até um capítulo a mais (o capitulo 17 nessa impressão foi incluido depois da primeira publicação, ambas disponíveis na Amazon, para comparação).

Mas quando se conta uma boa história, alguns pontos poderiam ter mais demora, como o romance e o jogo de sedução entre o detetive e uma de suas musas.

Isso, de modo algum, compromete o prazer da leitura, só nos deixa orfãos mais cedo do que gostaríamos. Espero, de coração, que o autor faça mais livros em breve sobre  o gênero.
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Em tempo, como sempre é bom esclarecer, eu sou um entusiasta de cyberpunk. Quando o Artur Vecchi falou do livro pela primeira vez em uma comunidade, gostei, de cara da proposta. É sempre bom esclarecer que fiz questão de comprar as DUAS edições do livro e que meus elogios são sinceros. Vida longa ao Cyberpunk nacional!

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